Historia e Graduações da Capoeira

Origem

A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão-de-obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, principalmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos destes escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angolanos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas.

O significado de Capoeira

Capoeiras eram áreas semi-desmatadas onde os escravos treinavam seus golpes, e provavelmente veio daí o nome da luta. Seus golpes quase acrobáticos e com aspecto de dança muito contribuíram para enganar os senhores de engenho, que permitiam a prática, julgando-a como uma brincadeira dos escravos. Segundo Areias (1983), a dança, por sua vez, representada pela ginga, servia para disfarçar a luta dando-lhe um caráter lúdico e inofensivo. A capoeira serviu por muitos anos como instrumento de luta dos escravos.

O berimbau e outros instrumentos

As rodas de capoeira são ritmadas pelo toque de instrumentos e pelas palmas dos capoeiristas.
O berimbau, que servia para dar rítmo ao jogo, também servia para anunciar a chegada de um feitor, ou seja, a hora de transformar a luta em dança.
O jogo da Capoeira é acompanhado por instrumentos musicais, comandados pela figura máxima do berimbau, o qual dá o tom e comanda o ritmo para a execução das cantigas: Cantos Corridos ou Ladainhas.

Podemos encontrar em uma roda de capoeira, além do berimbau, pandeiro e atabaque e, menos comumente, o agogô e o ganzá. Atualmente não se concebe uma roda de capoeira sem o toque característico do berimbau, podendo, no entanto, os demais instrumentos serem dispensados.
O berimbau dita o ritmo do jogo, é ele que comanda o toque a ser executado.
A capoeira apresenta diversos toques que são executados de acordo com a ocasião. Dentre eles é destacado:
 

No Brasil

Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros. Eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta.

Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.

A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.

Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.

A Capoeira e seus três estilos

A capoeira possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira angola. As principais características deste estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia. O estilo regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o contemporâneo, que une um pouco dos dois primeiros estilos. Este último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade.

A Capoeira e seus grandes Mestres

Bimba e Pastinha são consideradas os maiores nomes da história da capoeira em todo mundo.
É importante ressaltar que a Regional gerou uma grande polêmica no ambiente da capoeira, uma vez que muitos entenderam as inovações de Mestre Bimba como sendo uma descaracterização das tradições da luta. Iniciou-se, nos anos 30, um debate que dura até hoje sobre o que é a "verdadeira capoeira" e que modificações podem ser introduzidas sem desrespeitar os princípios e tradições da luta.
Com Mestre Bimba a capoeira começa a ganhar espaço institucional na sociedade.
O mestre teve apoio dos estudantes universitários de Salvador que contribuíram para a sistematização de suas idéias e para a formulação de seu método de ensino.
Bimba fundou a primeira academia de capoeira em 1932 (Centro de Cultura Física e Luta Regional da Bahia), ensinou capoeira em quartéis e chegou apresentar uma roda de capoeira para o presidente Getúlio Vargas, em 1953.

capoeira


A capoeira Regional 


Graduação básica adulta (a partir de 15 anos)
  • Iniciante: sem corda ou cordão
  • Batizado: verde
  • Graduado: amarelo
  • Graduado: azul
  • Intermediário: verde e amarelo
  • Avançado: verde e azul
  • Estagiário: amarelo e azul
Graduação avançada - Docente de capoeira
  • Formado: verde, amarelo e azul - 5 anos de capoeira - idade mínima 18 anos
  • Monitor: verde e branco - 7 anos de capoeira - idade mínima 20 anos
  • Professor: amarelo e branco - 12 anos de capoeira - idade mínima 25 anos
  • Contramestre: azul e branco - 17 anos de capoeira - idade mínima 30 anos
  • Mestre: branco - 22 anos de capoeira - idade mínima 35 anos
Graduação infantil (até 14 anos) - idêntica à graduação básica, porém com a cor mais clara. Após a sétima graduação, o aluno infantil passa para a segunda graduação adulta, corda verde. Em alguns casos (dependendo de seu desempenho) pode pegar a terceira graduação, corda amarela.
O tempo de cada graduação varia dependendo da sua importância. As cordas iniciais, como a verde e a amarela, podem ser conquistadas em menos de um ano. Cordas avançadas, notadamente as de contra-mestre e mestre, levam diversos anos e exigem um profundo conhecimento da capoeira para serem conquistadas.

O jogo Regional, se caracteriza por ser jogado sob os toques da Capoeira Regional: São Bento Grande Regional, Idalina, Banguela, Amazonas, Iúna, segundo os princípios desenvolvidos pelo seu criador, Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba (1900-1947); quando Bimba começou a sentir que a "Capoeira Angola", que ele praticava e ensinou por um bom tempo, tinha se modificado, degenerou-se e passou a servir de "prato do dia" para "pseudo-capoeiristas", que a utilizavam unicamente para exibições em praças e, por possuir um número reduzido de golpes, deixava muito a desejar, em termos de luta. Aproveitou-se então do "Batuque" e da "Angola" e criou o que ele chamou de "Capoeira Regional", uma luta baiana. Possuidor de grande inteligência, exímio praticante da "Capoeira Angola" e muito íntimo dos golpes do "Batuque"(O Batuque, é uma luta braba, violenta, onde o objetivo era jogar o adversário no chão usando apenas as pernas) , intimidade esta adquirida com seu pai, um mestre nesse esporte, foi fácil para Bimba, com seu gênio criativo, "descobrir a Regional".

Não basta ser rápido qualquer toque para que se transforme em Regional o jogo. Tem regra. Tem jogo específico para os toques específicos, tem fundamentos próprios. Jogo Regional pode ser de fora, como também pode ser de dentro. Pode ser alto ou baixo. Pode ser jogado na manha do toque da Banguela, que o Mestre criou para acalmar os ânimos. Mas tem que ser marcado, sincronizado no toque do berimbau único que segura a roda e dá o ritmo do jogo. Não tem que disparar apressado que não possa mais cantar. Pode ser manhoso também. Regional tem força, garra, ritmo e muita ciência também.

As características principais da Capoeira Regional são:

EXAME DE ADMISSÃO

Consistia de três exercícios básicos, cocorinha, queda de rins e deslocamento ( ponte ), com a finalidade de verificar a flexibilidade, força e equilíbrio do iniciante. Em seguida a aula de coordenação onde o aluno aprendia a gingar auxiliado pelo Mestre Bimba. Para ensinar a ginga, Mestre Bimba convidava o aluno para o centro da sala e frente a frente pegava-o pelas mãos e ensinava primeiramente os movimentos das pernas e a colocação exata dos pés, e em seguida realizava o movimento completo em coordenação com os braços. Este momento era importantíssimo para o iniciante pois lhe transmitia coragem e segurança. Acordeon Ex-aluno do Mestre poeticamente diz " ... ELE ERA FORTE NA ALMA TINHA UMA FACA NO OLHAR QUE CORTAVA A GENTE DE CIMA A BAIXO QUANDO ESTAVA A ENSINAR...".

SEQÜÊNCIA DE ENSINO DE MESTRE BIMBA

O Mestre criou o primeiro método de ensino da capoeira, que consta de uma seqüência lógica de movimentos de ataque, defesa e contra-ataque, podendo ser ministrada para os iniciantes na forma simplificada, o que permite que os alunos aprendam jogando com uma forte motivação e segurança. Jair Moura, Ex-aluno explica " esta seqüência é uma série de exercícios físicos completos e organizados em um número de lições práticas e eficientes, a fim de que o principiante em Capoeira, dentro de um menor espaço de tempo possível, se convença do valor da luta, como um sistema de ataque e defesa ". A seqüência original completa de ensino é formada com 17 golpes, onde cada aluno executa 154 movimentos e a dupla 308, o que desenvolve sobremaneira o condicionamento físico e a habilidade motora específica dos praticantes.

Os golpes integrantes da Seqüência são:


Armada

Arrastão

Bênção

Cocorinha         Cabeçada         Godeme           Galopante
Giro      Joelhada           Martelo Meia Lua de Compasso
Queixada          Negativa           Palma   Meia Lua de Frente
Rolê    
1ª SEQUÊNCIA

Jogador 1 - Meia-lua de frente, meia lua de frente, bênção e aú de rolê.

Jogador 2 - Cocorinha, cocorinha, negativa e cabeçada.

2ª SEQUÊNCIA

Jogador 1 - 2 Martelos, cocorinha, benção e aú de rolê.

Jogador 2 - 2 Rasteiras, armada, negativa e cabeçada.

3ª Sequência

Jogador 1 - Queixada, queixada, cocorinha, bênção e aú de rolê.

Jogador 2 - Cocorinha, cocorinha, armada, negativa e cabeçada.

4ª SEQUÊNCIA

Jogador 1 - Godeme, godeme, arrastão e aú de rolê.

Jogador 2 - 2 parada de godeme, galopante, negativa e cabeçada.

5ª SEQUÊNCIA

Jogador 1 - Arpão de cabeça, joelhada e aú de rolê.

Jogador 2 - Cabeçada, negativa e cabeçada.

6ª SEQUÊNCIA

Jogador 1 - Meia-lua de compasso, cocorinha, joelhada lateral, aú de rolê.

Jogador 2 - Cocorinha, meia-lua de compasso, negativa e cabeçada.

7ª SEQUÊNCIA

Jogador 1 - Armada, cocorinha, benção, aú de rolê.

Jogador 2 - Cocorinha, armada, negativa e cabeçada.

8ª SEQUÊNCIA

Jogador 1 - Bênção e aú de rolê.

Jogador 2 - Negativa e cabeçada.

Cintura Desprezada é uma seqüência de golpes ligados e balões, também conhecidos como Movimentos de Projeção da Capoeira, onde o capoeirista projeta o companheiro, que deverá cair em pé ou agachado jamais sentado. Tem o objetivo de desenvolver a auto-confiança, o senso de cooperação, responsabilidade, agilidade e destreza.

Os golpes que fazem parte desta seqüência são:

CINTURA DESPREZADA

Aú        Balão de Lado
Tesoura de costas         Balão Cinturado
Apanhada         Gravata Alta
BATIZADO

Momento em que o iniciante jogava pela primeira vez na roda com o acompanhamento de instrumentos. No batizado, o mestre escolhia o formando que jogaria com o calouro e então tocava "São Bento Grande", toque que caracterizava a capoeira regional. Para isso o calouro era colocado no centro da roda, onde o mestre escolhia um apelido a ele. Depois de definido o "nome de guerra" o mestre mandava o calouro pedir a "Benção" do padrinho, que ao estender a mão recebia uma Benção que o jogaria no chão.

FORMATURA

A cerimônia iniciava com uma roda de formados antigos para que as madrinhas e os convidados pudessem ver o que era a Capoeira Regional. Mestre Bimba ficava ao lado do som, que era formado por 1 Berimbau e 2 pandeiros, comandando a roda e cantando as músicas características da Regional. Terminada a roda, o mestre chamava o orador que geralmente era um formado mais antigo para falar um breve histórico da Capoeira Regional e do mestre.

Após o histórico, o mestre entregava as medalhas aos paraninfos e os lenços azuis (Graduação dos Formados) as madrinhas. Os paraninfos colocavam a medalha ao lado esquerdo do peito do Formado e as madrinhas colocavam os lenços nos pescoços dos seus respectivos afilhados. A partir dai os formados demonstravam alguns movimentos a pedido do mestre para mostrar a sua competência, incluindo os movimentos de "cintura desprezada", "jogo de floreio" e o "escrete" que era o jogo combinado com o uso dos Balões.

Para terminar, chegava a hora do "Tira-medalha" onde o recém formado jogava com um formado antigo que tentava tirar a sua medalha com qualquer golpe aplicado com o pé. Só então depois de passar por isso tudo é que o aluno poderia se considerar aluno formado de mestre Bimba, tendo direito até de jogar na roda quando o mestre estivesse tocando Iuna que era o toque criado por ele para esse fim. A partir dai só restava o curso de especialização que veremos a seguir.

ESPECIALIZAÇÃO

Tinha duração de 3 meses, sendo 2 na academia e 1 nas matas da Chapada do Rio Vermelho. Tratava-se de um treinamento de guerrilha, onde aconteciam as emboscadas, armadilhas e etc. , que consistia em submeter o formado a situações das mais difíceis, desde defender-se de 3 ou mais Capoeiristas, até defender-se de armas.

Terminado o curso, o mestre fazia a mesma festa para os novos especializados, e estes recebiam o lenço vermelho que representava a nova graduação. O aluno que se formava ou se especializava, tinha a obrigação de pendurar um quadro com a foto mestre, do padrinho, do orador, e a própria foto.

GRADUAÇÃO CAPOEIRA

Sistema oficial de graduação, idealizado desde 1972.

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