Aqui você encontra um pequeno resumo sobre as Leis que regulamentam as atividades esportivas em geral e a capoeira em particular.
Em cada tópico haverá um Link correspondente à Lei citada para que você possa conferir a redação e interpretá-la.
I - INTRODUÇÃO
Encontramos no Brasil, uma série de legislações às quais estão relacionadas a prática da Capoeira, direta ou indiretamente.
Antes de tudo, se torna é necessário posicioná-la dentro do quadro social e por seus modos de fazer, ou seja, enquanto esporte ou desporto.
Genericamente, concebemos por ESPORTE, qualquer tipo de atividade física, praticada eminentemente como lazer. No caso da Capoeira, sua prática esportiva ocorre nas rodas de rua, parques e logradouros públicos, não envolvendo ensino e organização sistematizada. Há que se enfatizar que, e em se tratando de um espaço público, também está afeta a prévia autorização, através de Alvarás cedidos pelas Prefeituras locais.
Por outro lado se concebe como DESPORTO, toda atividade física, praticada com regras universais e entidade de direção. Nesta situação estarão implicadas todas as entidades que desenvolvam ensino e organização sistematizada, critérios de reconhecimento de instrutores, níveis de alunos, uniformes, graduações, independentemente de participarem ou não de competições.
Sua prática competitiva implicará em uma outra situação denominada DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO.
Na Capoeira, assim como no futebol e em outras modalidades, encontramos o Esporte (pelada), o Desporto (escola) e o Desporto de Alto Rendimento.
II CAPOEIRA ESPORTE OU CAPOEIRA CULTURA ?
Não existe diferença.
Acontece ao mesmo tempo.
Existe algo mais cultural no Brasil que o futebol ?
O desfile das Escolas de Samba não é uma competição desportiva ?
Capoeira é Cultura, Esporte, Dança, Luta, Mística e Jogo.
A Capoeira explicada é uma Capoeira fragmentada. Não existe.
É como separar os dedos de uma mão ...
... Fora da mão estão mortos.
... Sem um dos dedos é deficiente.
O Centro de Cultura Física e Luta Regional de Mestre Bimba, fundada em 09/07/37, foi a segunda Escola Técnica de Educação Física do Brasil e um de seus maiores méritos foi obter um "registro" para sua entidade.
A Escola de Mestre Pastinha tinha a denominação de Centro Esportivo Capoeira Angola.
O Estatuto da referido Centro, fundado em 01/10/52, que se assemelha em muito o das Federações Estaduais, previa "superintender a Capoeira em todo Estado da Bahia ... sob a condição de filiação". Além disto ainda rezava o "intercâmbio com todas as entidades esportivas do país", dando inclusive aos sócios, "a gratificação equitativa de acordo com o produto da competição em que atuar por deliberação da Diretora".
Outra importante entidade foi o Centro Esportivo da Capoeira Angola Dois de Julho, de Mestre Cobrinha Verde, discípulo de Besouro Mangangá.
III - O REAPROVEITAMENTO DA CAPOEIRA COMO DESPORTO:
Desde 1886, vários autores passaram a observar os valores desportivos da Capoeira e seu reaproveitamento como um desporto. Entre eles se destacam Plácido de Abreu, Coelho Neto, Raul Pederneiras, Annibal Burlamaqui (Zuma) e Inezil Pena Marinho.
IV - RECONHECIMENTOS OFICIAIS DA CAPOEIRA ENQUANTO ESPORTE:
A Capoeira foi reconhecida como prática desportiva pela primeira vez como "LUTA BRASILEIRA (CAPOEIRAGEM)," pela Lei Federal 3.199 de 14/04/41, onde foi criado o Departamento Nacional de Capoeira junto à Confederação Brasileira de Pugilismo.
Novamente, em abril de 1953, foi reconhecida como Desporto pela Deliberação 071 do Conselho Nacional de Desporto.
Outro reconhecimento ocorreria em 26/12/72 por uma sessão do CND, cuja ata foi lavrada em 16/01/73.
Em fevereiro de 1995, a Capoeira foi definitivamente reconhecida como DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO e inserida no seleto rol das entidades que integram o Comitê Olímpico Brasileiro - COB.
Diversas outras Leis Federais sucederam a 3.199, sendo as mais recentes a Lei 6.251 de 08/10/75, a Lei 8.672 de 06/07/93 (Lei Zico) a qual foi substituída pela Lei Federal 9.615 de 24/03/98 (Lei Pelé) e seu Regulamento estabelecido pelo Decreto Federal 2.574 de 29/04/98, a cujos textos nos ateremos mais detalhadamente.
"A pratica desportiva formal é regulada por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto";
OBS.: - A única entidade nacional de administração do desporto é a CBC.
- Artigo 4°, Item IV e Pars. 1° e 2°:
- Artigo 7° Item II:
- Artigo 14:
- Artigo 20 e parágrafo 2°:
"O sistema Brasileiro do Desporto compreende... O sistema nacional do desporto, os sistemas de desportos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,organizados de forma autônoma e em regime de colaboração, integrados por vínculos de natureza técnica específicos de cada modalidade desportiva. ... O Sistema Brasileiro de Desporto tem por objetivo garantir a prática desportiva regular e melhorar-lhe o padrão de qualidade. ... A organização desportiva do país, fundada na liberdade de associação, integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerada de elevado interesse social".
"Os recursos do Indesp terão a seguinte destinação...para as competições brasileiras dos desportos de criação nacional"
"O Comitê Olímpico Brasileiro, o Comitê Paraolímpico Brasileiro e as entidades nacionais de administração que lhe são filiadas os vinculadas, constituem subsistema específico do Sistema Nacional de Desporto, ao qual se aplicará a prioridade no inciso II do Artigo 217 da Constituição Federal, desde que seus estatutos sigam integralmente a Constituição e as Leis vigentes no País" (desporto escolar e desporto de alto rendimento)".
"As entidades de prática desportiva participantes de competições do sistema Nacional, poderão organizar Ligas Regionais ou Nacionais. ... As entidades de prática desportiva que fundarem Ligas Regionais ou Nacionais comunicarão a criação destas às entidades nacionais de administração do desporto ".
OBS.: A Lei Pelé só prevê a existência de Ligas Regionais ou Nacionais. Não existe na Lei Federal a situação de uma Liga Estadual nem de outras Confederações.
F- Artigo 88:
"Os árbitros e auxiliares de arbitragem poderão constituir entidades nacionais e estaduais , por modalidade desportiva ou grupo de modalidade, objetivando o
recrutamento, a formação e a prestação de serviços às entidades nacionais de administração do desporto".
OBS.: Foi fundada no dia 06/06/99 a ABAC.
Parágrafo 3° do Artigo 5 do Decreto 2.574:
"É admitido em cada Sistema de Desporto, a constituição de subsistemas para segmentos da sociedade, com finalidade e organização específicas, mantidas a unidade e a coerência do sistema em que se inserirem".
OBS.: Não importam quantas entidades houver. Todas deverão estar dentro do regulamento nacional da modalidade.
A partir do dia 01/09/98 a Capoeira passou a ser enquadrada na Lei 9.696 que regulamenta a Profissão de Professor de Educação Física. Esta lei determina que qualquer atividade pertinente às atividades físicas, esportivas ou gímnicas. " Apenas serão inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais ... os que forem possuidores de diplomas obtido em curso de Educação Física. ... Os que até a data do início da vigência desta Lei, tenham comprovadamente exercido atividades próprias dos profissionais de Educação Física, nos termos a serem estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação Física".
Consequentemente, por esta Lei a pratica do ensino da Capoeira passa a ser regulamentada da mesma forma que as profissões de Advogado, Médico, Fisioterapeuta e Dentista entre outras, podendo os não enquadrados responder por exercício ilegal de profissão, o que está previsto pelos seguintes Artigos da Constituição Federal:.
- Artigo 5° Item XIII:
"é livre o exercício profissional de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a Lei estabelecer".
- Artigo 8° Item I: "é livre a associação profissional ou sindical, observado o registro no órgão competente".
- Artigo 22 Item XVI: "compete privativamente à União legislar sobre a organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões".
- Artigo 170 Parágrafo Único: "É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em Lei".
- Artigo 217 Item IV da Constituição Federal:
"É dever do Estado fomentar as práticas do desporto formal e não formal como direito de cada um, observado: ... a proteção e o incentivo aos desportos de criação nacional".
OBS.: Por proteção governamental, conforme dicionário Aurélio, temos: resguardar, amparar, livrar do mal, socorrer, ter a seu cuidado. Em outras palavras, fazer cumprir a Lei.

CAPOEIRA NA ESCOLA
CONGRESSO NACIONAL RECONHECE CAPOEIRA COMO DESPORTO DE CRIAÇÃO NACIONAL COM A APROVACAO DO ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL

CAPOEIRA NA ESCOLA
A ESCOLARIZAÇÃO DA CAPOEIRA
Manaus – AM
Outubro de 2001
INTRODUÇÃO
O Presente trabalho aborda o assunto Capoeira nas Escolas, e visa qualificar o
aprendizado do aluno dentro de seu currículo escolar. A capoeira faz parte do
folclore, da cultura, mas principalmente, da história do Brasil. Aprender a
capoeira é aprender todo contexto histórico, seja ele social, econômico, político
ou cultural, que envolveu a história do negro em nosso país, desde a sua vinda
como escravo até a sua influência em nossa cultura e em nossos hábitos.
Os exercícios desenvolvidos na prática da capoeira, torna-a uma das
atividades mais completas que existe, pois desenvolve de uma forma lúdica e
descontraída a flexibilidade, melhora a resistência pulmonar e o
condicionamento físico, aprimora a coordenação motora, entre outros
benefícios.
Um dos principais diferenciais que a capoeira possui em relação a outros
esportes, está em seu aspecto rítmico. A utilização de instrumentos musicais e
canções em sua prática, faz com que o aluno desenvolva o domínio do ritmo
em todas as suas formas: aprendendo a tocar instrumentos como o berimbau,
pandeiro e atabaque; a cantar em público, tornando-o mais desinibido e
utilizando a música como forma de aprendizado, uma vez que as canções da
capoeira falam da história desta arte. Outro aspecto trabalhado pela prática da
capoeira diz respeito ao convívio social do indivíduo. Trabalhando em conjunto
e necessitando de solidariedade mútua para sua evolução, o aluno aos poucos
vai se despindo de preconceitos inúteis e adquire um comportamento onde
prevalece o respeito às diferenças individuais de cada colega.
Em todas as partes do mundo, os homens tentam conservar suas culturas e
perpetuar suas tradições para que os mais jovens possam conhecer seus
hábitos e costumes, que caracterizam a alma popular de um país que acabou
sendo , literalmente invadidos por várias culturas, formando hoje a nossa tão
rica cultura brasileira.
Um Breve Histórico da Capoeira
A Capoeira surgiu com a escravidão no Brasil, sendo a princípio luta de
libertação dos escravos que fugiam das fazendas, e como não dispunham de
armas faziam essas de seu próprios corpo. Sua prática acontecia nos cativeiros
quando os escravos e escravas dançavam em formas de rodas e com isso
camuflavam a prática da luta, por isso ficava tão difícil para os capitães do
mato e seus senhores impedirem a sua manifestação. A Capoeira sempre
esteve na marginalidade e chegou a ser proibida pelo Código Penal da
República do Brasil, entretanto tais medidas não foram suficientes para
exterminá-la, pois sua prática persistia em guetos escondidos.
Em Pernambuco, Rio de Janeiro e Salvador, após a libertação dos escravos,
alguns capoeiristas tornaram-se capangas dos senhores e até guardas do
exército. Eram muito temidos pois viviam em uma época que a polícia mal era
armada. Em 1930 Mestre Bimba, exímio lutador de capoeira fez uma
apresentação para o então Presidente da República Getúlio Vargas, que
revogou a Capoeira da criminalidade e a sua prática passou a ser permitida.Mestre Bimba foi o primeiro a introduzir a Capoeira nas escolas, primeiramente
na Faculdade de Medicina e Direito de Salvador/BA e até mesmo no exército,
aprimorando a sua conhecida Capoeira com os movimentos do Batuque, uma
luta de quedas da qual seu pai era campeão, e criou a Luta Regional Baiana,
que acreditava ele, não sairia da região de Salvador, e sabemos é a nossa hoje
denominada Capoeira Regional, que vem sendo resgatada pela Escola de
Capoeira Filhos de Bimba (1899 - 1974).
Foi desde então que, à partir de Mestre Bimba, a Capoeira passou a receber a
denominação de Capoeira Regional, para os discípulos de Bimba e Capoeira
Angola, para os demais capoeristas.
Vale lembrar que a origem da Capoeira é Afro-brasileira, por ter sido criada por
africanos em terras brasileiras, não se tendo notícia de nenhuma manifestação
na África de qualquer prática similar, daí porque podemos nos orgulhar de ser a
Capoeira tipicamente brasileira.
A capoeira é para nós brasileiros, a mais antiga forma de expressão corporal
de uma cultura nascida aqui, com mais de três séculos de vivência, tendo
resistido a toda espécie de repressão.
É jogo, dança, arte e poesia. Os capoeiristas dialogam através do som do
berimbau. O jogo vira luta, a luta vira dança, ou brincadeira de criança, mas
acima de tudo a capoeira é uma filosofia de vida, uma forma de encarar a vida,
uma forma de encarar o mundo, um enigma a ser decifrado ou carregado pelo
capoeirista para a eternidade. Sua história confunde-se com a própria história
do povo brasileiro. A capoeira surge com a manifestação de liberdade de um
povo. Nos Dias atuais, não sem luta nem sem esforços, a capoeira ganhou
mais espaço e respeito. Sua força e importância são de tamanha grandeza
que, mesmo diante de tantas perseguições, continua existindo e se
multiplicando. São inúmeras as academias existentes no país e, em muitas, a
preocupação com a preservação de sua integridade histórica é constante.
Algumas, ao lado da regional, ensina-se também a capoeira de angola.
Em toda academia que merece ser chamada de academia de capoeira são
ensinados os cânticos, as músicas e letras e o domínio de, pelo menos, um dos
instrumentos da capoeira. Um forte movimento social, juntamente com
pedagogos, psicólogos e professores, vem desenvolvendo um trabalho sério no
sentido de provar às autoridades que o ensino da capoeira é uma prática das
mais adequadas para os estudantes brasileiros. O movimento visa à adoção da
capoeira nas salas de aulas de educação física, nas escolas brasileiras. Muitas
escolas já adotaram no Rio de Janeiro, na Bahia e em São Paulo. O argumento
incontestável para essa adoção: a capoeira proporciona em termos de
equilíbrio e concentração, aumento dos reflexos e de toda a coordenação
motora.
A Capoeira é brincadeira, é um jeito de lutar jogando, rindo, dissimulando. Tem
evoluído nos últimos cinqüenta anos, saiu das sendas da marginalidade e
passou a ser praticada em escolas, academias, clubes e sua presença,
obrigatória em espetáculos diversos.
Tratando-se de uma cultura popular, a transmissão de conhecimentos de
geração em geração vem ocorrendo de forma verbal e através da própria
realização da arte. Sua expressão popular faz parte do vasto e rico legado da
cultura brasileira e contém elementos de educação, arte, luta, esporte, terapia,
assim como dança, lazer, folclore, história, ginástica, etc. A arte na Capoeira se faz presente através da música, do ritmo, do canto, da
expressão corporal, da criatividade de movimentos e da presença cênica. A
luta representa sua origem e sobrevivência através dos tempos na sua forma
mais natural, como um instrumento de defesa pessoal genuinamente brasileiro,
e uma estratégia de resistência ao aniquilamento de uma cultura. Como
modalidade esportiva, ela possui elementos que se identificam culturalmente
com seus praticantes, despertando o interesse da comunidade em geral. A sua
prática, como forma de lazer e recreação, representa eventos conhecidos na
comunidade como "rodas de capoeira", sendo evidente os seus efeitos
terapêuticos em termos educacionais, ocupacionais e de reabilitação.
O fim do regime escravocrata não significou a aceitação imediata da
comunidade negra na vida social. Ao contrário, vários aspectos da cultura afrobrasileira sofreram violenta repressão, como a capoeira. O caso da capoeira é
o mais evidente: essa forma de rebeldia, que já havia sido utilizada como arma
na luta de inúmeras fugas durante a escravidão, tornou-se um símbolo de
resistência do negro a dominação.
CAPOEIRA COMO ESPORTE
Desde seu aparecimento, o capoeira foi considerado um marginal, um
delinqüente; a sociedade deveria vigiá-lo e as leis penais deveriam enquadrá-lo
e puni-lo. O Código Criminal do Império do Brasil, primeira codificação penal
brasileira, de 1830, não se refere especificamente ao capoeira, mas, como
socialmente este era visto como um marginal, vadio e sem profissão definida,
estava implicitamente enquadrado no capítulo IV, artigo 295, que tratava dos
vadios e mendigos. Já o Código Penal da República, de 1890, deu-lhe
tratamento no capítulo XIII, intitulado Dos vadios e capoeiras.
Em Salvador, desde a década de 1910, assiste-se à criação de "escolas de
capoeira" (academias clandestinas, evidentemente) das quais, duas décadas
depois, uma se tornaria a primeira a receber licença oficial para seu
funcionamento. A perseguição durou até a década de 1930, com a renovação
produzida por Mestre Bimba, que recebeu de seus contemporâneos o apelido
de "Lutero da Capoeira", por causa das transformações profundas que
introduziu na arte. Os adversários mais ferrenhos tinham-no como deturpador
da "Capoeira Angola", porque ele nem admitia a direta procedência angolana
de tal jogo. Dizia, mesmo, convicto: "Os negros, sim, eram de Angola, mas a
capoeira é de Cachoeira, Santo Amaro e Ilha de Maré, camarada!"
Tanto para mestre Bimba como para mestre Pastinha, a preocupação central
era a busca da legitimidade social da capoeira, que seria conquistada através
de sua afirmação como um esporte. Para tanto, a capoeira teria que sair das
ruas e limitar-se ao espaço fechado das academias. Através de uma pedagogia
para o ensino da capoeira, os dois mestres (principalmente Bimba) esforçaramse para ampliar o espectro social e étnico dos praticantes, buscando a adesão
das classes médias e brancas de Salvador. Esse processo de legitimação da
capoeira tinha como propósito principal, em última instância, a ampliação da
participação social dos negros na sociedade baiana. Primeiro disciplinador e
pedagogo da capoeira, Mestre Bimba criou sua modalidade e a consagrou com
a esportização da capoeira e sua discriminação, pois o reconhecimento oficial
da primeira escola recairia sobre o "Centro de Cultura Física e Capoeira
Regional", dirigido por Bimba, em 1937.Nesse processo de crescimento e expansão, veio a Capoeira revelando suas
vocações, seus valores e aptidões: é hoje ensinada como educação física nas
forças armadas e nas escolas; foi para as universidades e para as escolas de
2º. grau; vem sendo empregada com êxito notável na inserção social de
deficientes físicos e mentais, e de menores carentes, abandonados e
marginalizados; sua ginástica -- em franco e ininterrupto desenvolvimento,
constitui sabidamente um instrumento de cultura física, mental e espiritual de
grande poder; sua filosofia participa com alguns valores fundamentais na
formação do caráter de incontáveis praticantes; enfim, sua prática nos
proporciona muita saúde, prazer e autoconfiança.
Contamos com excelentes mestres, espalhados por todo o Brasil, e também no
exterior; muitos deles trazem na bagagem invejáveis currículos, repletos de
importantes benefícios prestados à comunidade.
Capoeira, luta habilmente dissimulada em dança; jogo no qual os mais exímios
participantes exibem toda a sua capacidade de controle físico e mental, sem
mesmo se tocarem um instante sequer: para todo ataque há uma defesa, que
sempre traz oculto um contra-ataque, talvez mais perigoso ainda. É como um
tufão, um redemoinho, cobra sucuri, óleo de jibóia...
A ginástica brasileira; a luta brasileira; o esporte genuinamente brasileiro; o
jogo de destreza, astúcia e extrema beleza; orgulhamo-nos de nossa Capoeira,
tesouro cultural inexplorado ainda por completo!
Todavia, caminhamos ainda a passos lentos na dura jornada que haverá de
nos conduzir à inclusão da Capoeira nas Olimpíadas. No caminho para virar
olímpico, o esporte enfrenta um purgatório de sete círculos de elevação, igual
ao católico. A posição depende da aceitação em entidades internacionais. Elas
são, por ordem de importância, a ARISF (Associação das Federações
Internacionais Reconhecidas pelo Conselho Olímpico Internacional), a GAISF
(Associação Geral das Federações Esportivas Internacionais) e a IWGA
(Associação Internacional dos Jogos Mundiais).
DA SENZALA À ESCOLA:
" Às vezes me chamam de negro, pensando que vão me humilhar, mas o que
eles não sabem é que me fazem lembrar, que eu venho daquela raça que lutou
para se libertar... " (Cântico de capoeira, domínio público).
Somos hoje fruto de nossa história. Dos processos sinérgicos e dinâmicos
oriundos dos movimentos sociais, políticos e econômicos que a perfazem. O
respeito acerca do que nos diferencia de outros povos advém do conhecimento
das nuanças e complexidades da nossa cultura, seja qual for a origem de
classe da produção dos elementos culturais, que compõem a nossa identidade
- e por que não -, orgulho de ser brasileiro.
A capoeira, tema–mater deste estudo, configura-se como um elemento vivo e
atuante dessa nossa cultura. Um povo que não se (Re) conhece não consegue
avaliar a sua força e proposição de mudança. Como um elemento cultural vivo
e atuante ao longo de nossa cronologia, a capoeira neste trabalho é analisada,
buscando-se identificar o grau da atuação dos professores que hoje lecionam
nossa Capoeira.
Esta pesquisa é pautada por categorias de análise acerca da atualidade da
prática do ensino dos professores de capoeira e da sua inserção no atual
contexto social. Todo este processo foi norteado por uma perspectiva de investigação qualitativa, auxiliado por uma conversa com o mestre Domingos
Lima Ribeiro.
Como elemento constitutivo de nossa cultura corporal, de origem negra e
pobre, a discriminação social acerca da capoeira é fato histórico. Os
estereótipos físicos, morais e intelectuais associados aos seus praticantes, têm
uma justificativa fundada na história da formação de nosso povo, um Brasil
escravista, latifundiário e perverso na sua distribuição de renda.
A dicotomia entre a cultura popular e a cultura erudita acadêmica perdura em
nossa sociedade. As manifestações culturais populares e/ou folclóricas são, a
grosso modo, relegadas a datas episódicas e a uma participação escassa e
estratificada da maioria da população brasileira. A esse tipo de descrédito e
discriminação a Capoeira também foi relegada. Portanto, considerar o
praticante de capoeira – o capoeirista –, um sujeito "vadio", "ignorante",
"iletrado", mas dotado de um "dom", um "talento" e compleição física "forte",
são valorizações socioculturais estereotipadas decorrentes de sua própria
história e origem de classe.
A descrição da ocorrência do fenômeno corporal - capoeira no seu ensino,
pode subsidiar posteriores estudos e políticas de atuação nesta modalidade,
fornecendo dados que facilitem o pleito dos organismos instituídos na capoeira
- grupos e associações -, junto aos órgãos educacionais e culturais do poder
público. A constatação de seu volume de atuação pode - se tornar um
instrumento de pressão política para tais fins.
Contemporaneamente, a produção da pesquisa acerca do tema tem crescido e
se alastrado por vários campos do conhecimento. A despeito dessa atual
produção acadêmica, a Capoeira ainda demanda as mais diversas
abordagens, quer sejam elas de ordem histórico-social, psicológica,
etnográfica, entre outras, pois são muitas as questões acerca de sua prática
que não foram investigadas e tampouco respondidas.
As dificuldades de sua observação são freqüentes nas associações e grupos
que a compõem no Brasil. O controle de seu desenvolvimento demográfico, a
pesquisa de sua metodologia e o perfil socioeconônico de seus integrantes são
categorias que ainda não foram investigadas a fundo. Trabalhos desta natureza
são escassos e assistemáticos na sua abordagem científica. A rivalidade e as
restrições pessoais dentro do universo da Capoeira impedem uma real,
eficiente e pragmática unidade em torno de sua defesa e investigação. Muitas
vezes essas diferenças ideológicas, levadas às últimas instâncias da violência,
tornam impossível o diálogo e o relacionamento entre seus difusores maiores -
os grupos e associações de capoeira de todo o Brasil.
Os caminhos da Capoeira
O entendimento de que a identificação do "Corpus" da prática da capoeira e
suas relações com a prática de seu ensino, constitui elementos básicos para
futuras proposições, tanto pedagógicas, quanto de cunho político-educacional,
para o seu desenvolvimento, levando a opção por uma metodologia baseada
nas proposições da pesquisa qualitativa e tendo, como abordagem geral,
aproximações a uma compreensão dialética e enquanto abordagem específica,
aspectos que se aproximam da pesquisa etnográfica. A adoção destes
procedimentos de orientação metodológica, favoreceu a observação, registro e
análise dos dados coletados e suas proposições abordadas no item conclusivo
deste estudo.A abordagem geral deste trabalho baseia-se em aproximações a uma
compreensão dialética, que se apoia nas concepções dinâmicas da realidade e
nas relações dialéticas entre sujeito e objeto e entre o conhecimento e a ação
realizada. Neste sentido, vale ressaltar que
"... a atitude dialética pode realizar a síntese, compreendendo o passado como
etapa e caminho necessário e válido para a ação comum dos homens duma
mesma classe no presente, a fim de realizar uma comunidade autêntica e
universal no futuro." (GOLDMAN, 1988, p.22).
O paradigma que fundamenta esse percurso é o interpretativo, pois, além da
busca de superação da dicotomia quantitativa/qualitativa, na qual a etnografia
se propõe, também possui como perspectiva a busca da descrição
sociocultural e econômica dos partícipes do ensino da capoeira, bem como
suas relações com a prática de ensino, adequando-se então aos parâmetros
dessa tipologia.
Os relacionamentos encontrados entre os dados relativos à categoria "Forma
de atuar" buscam descrever a realidade e dar respostas a questionamentos
quanto à necessidade de uma melhor estruturação e organização, ao meio
capoeirístico e ao desenvolvimento de sua valorização profissional. A
aproximação aos aspectos da etnografia remete a questões relativas a esta
abordagem metodológica, haja vista que o processo de construção da
localização geográfica desta pesquisa foi orientada por um dos principais
aspectos da transmissão de conhecimento na Capoeira: a oralidade. A figura
do mestre ou daquele que dirige as ações de um determinado grupo foi
fundamental neste processo de apreensão dos dados da realidade.
De um total estimado de vários professores na cidade, podemos encontrar ,
mestres, contramestres, professores, instrutores e graduados em atuação no
ensino de Capoeira e entre todas essas pessoas o estudo e o conhecimento de
nossa capoeira ainda é muito escasso, devido a falta de materiais registrados.
DIMENSÕES DE TREINAMENTO
A Capoeira é um patrimônio cultural brasileiro com especificidade ímpar pela
sua complexibilidade e pela sua abrangência. "A capoeira dispõe de muitos
atrativos. Prende, monopoliza, empolga, arrebata, seduz".(Moura, 1980, p.26).
A Capoeira é constituída de oito dimensões básicas, que nos fazem perceber
como ela é importante para nós:
Antropologia: enfoca as cerimonias, os rituais de origem Africana, elementos
culturais formadores da Capoeira;
Sociológica: enfoca as questões políticas, econômicas e sociais das formas
históricas;
Filosófica: desvenda as funções simbólicas estabelecidas nas diversas formas
históricas;
Educativa: função de contribuir na educação crítica e criativa;
Pedagógica: compõe métodos e processos adotados para educar e instruir;
Preparativa: aproveitamento e o desenvolvimento racionais e práticos da forma
física;
Estetica: exprime a materialização gestual do sentimento e da apreciação do
belo, expressa pelo estilo do capoeirista e podem ser: sensoriais,
equalizacionais e posturais;
Lúdica: exteriorização coletiva e prazerosa da totalidade do manifesto capoeira,
e possui três princípios: transcedências, correlacionais, implusivas.Assim através destas dimensões, o jogador de Capoeira está apito a
desenvolver todas as suas habilidades físicas, como força, coordenação,
resistência e velocidade. Assim como suas habilidades físicas que podem ser
melhoradas com a prática da capoeira, assim como seu lado afetivo, cognitivo
e motor, assim como conjunto da obra a Capoeira é um esporte completo,
capaz de mudar e movimentar o seu corpo para atingir um alto grau de
satisfação pessoal.
A MÚSICA E OS SONS DA CAPOEIRA
A musica vem, desde as manifestações primitivas, pré-histórica, homens das
cavernas, trazendo consigo através dos tempos, um caráter religioso,
relacionado aos deuses ou a Deus, com funções magicas reverenciando o
desconhecido com o objetivo de:
Agradecer abundância da caça;
A fertilidade da terra;
Celebrar fatos reais; dentre elas: as vitórias nas guerras e as descobertas
surpreendentes.
A musica na Capoeira possui três funções básicas:
Função ritual: proporciona a animação da roda;
Elemento mantenedor das tradições: resgata a memória da escravidão e a luta
pela libertação, os quilombos e exalta os nomes famosos da história da
escravidão e da Capoeira;
É um espaço dinâmico de constante repensar dessa mesma história;
A ética – a inserção do negro na sociedade.
Assim a musica na Capoeira divide-se em três categorias:
Ladainhas: são os solos ou rezas, cantadas ao toque lento do berimbau;
Chulas: são cânticos mais rápidos alternados com estrofes, cantados pelos
solistas e pelo coro;
Corridos ou quadras: são pequenas frases cantadas com fator de animação
nos momentos mais rápidos cantadas pelo solista e repetidas pelo coro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Porque a capoeira é muito criticada e valorizada atualmente? A capoeira ao
meu ver, é valorizada hoje porque não vive preso no passado, acredita na
evolução do homem e que tudo se transforma e se recria. Respeitar e valorizar
o passado, não significa ficarmos presos a ele, as técnicas requerem
dinamismo do homem moderno, que respeita seu passado de luta, mas não se
prende a ele, acredita no seu potencial de compreensão e dinamismo, e
projetando para o presente, técnicas aperfeiçoadas no embate dia a dia, que
exige do homem moderno a vivacidade e o aperfeiçoamento em tudo ao seu
redor. Com a capoeira não podia ser diferente, ela nos mostra a realidade nas
rodas de capoeira no Brasil, não esconde os problemas do ser humano. A
agressividade, a maldade, a herança genética que trazemos, onde só os fortes
e os que aceitam e aprendem a viver novos valores, sobrevivem aos desígnios
do futuro.
A capoeira nos mostra que o homem tem capacidade, inteligência e força para
administrar conhecimento, criando e projetando para o futuro a capoeira sem
correntes, seguindo a sua evolução. De alguma forma a capoeira nos dá a
oportunidade de pensar, de criar e eleborar técnicas necessárias para arealidade de hoje. Subtraindo o melhor do passado, conseguimos projetar para
o futuro novas formas de pensar e agir em comunhão com nossa realidade.
A capoeira pertence ao homem e não o homem pertence a capoeira, que de
acordo com as necessidades do homem, a transforma como fez Bulermark,
mestre Bimba e no presente tantos outros mestres que se recusam a decorar
seqüências e dogmas do passado, decorar não é aprender, porque para
aprender, você deve compreender e a capoeira se faz hoje em dia, através do
lúdico, da liberdade de movimentos e expressão, do prazer pelo jogo, por isso
está entrando não somente nas escolas, como também nos clubes,
associações, etc.
A Capoeira nos ensina a humildade, a vencer os preconceitos, de cabeça
erguida, peito erguido, com postura de quem se orgulha do que é e sabe que
tem força de luta. Hoje em dia existem inúmeros programas de escolarização
da capoeira e muitos já estão sendo utilizados, graças ao apoio do governo e
ao belíssimo trabalho que os mestres estão executando não somente em
nosso pais, mais também em todo o mundo, "A Capoeira evoluiu bastante, não
existe mais tanto preconceito. Mas isso tudo foi conquistado com muita luta e
dedicação de todos nós capoeiristas"...
CAPOEIRA COM DESPORTO NACIONAL
“Capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional” com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, que Estabelece o combate a discriminação racial e as desigualdades estruturais e de gênero que atingem os afro-brasileiros, incluindo a dimensão racial nas políticas públicas e outras ações desenvolvidas pelo estado.
De acordo com os artigos 21, 23 e 24 do estatuto, o poder publico garantirá o registro e proteção da capoeira, bem como o pleno acesso da população à prática desportiva.
Diz ainda que a capoeira sendo reconhecida como esporte, luta, dança ou música, tem livre exercício em todo território nacional sendo facultado aos mestres, formal e publicamente reconhecidos, o ensino da arte.
Veja abaixo os artigos:
DA CULTURA
ART. 21
O poder público garantirá o registro e proteção da capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural brasileira.
Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio dos atos normativos necessários, a preservação dos elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais.
Do Esporte e Lazer
ART. 23
O poder público fomentará o pleno acesso da população negra ä prática desportiva, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais.
ART. 24
“A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional nos termos do art. 217 da CF.”
Parágrafo 1 A atividade de capoeira será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional.
Parágrafo 2 Ë facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos.
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